Introdução
Call of the Sea é um jogo de puzzle com uma boa dose de Lovecraft, desenvolvido pela Out of the Blue Games, e publicada pela Raw Fury. Lançado no dia 8 de dezembro de 2020, este é um jogo que chamou atenção do público que gosta de uma história cheia acontecimentos sobrenaturais, culturas antigas a se descobrir, mistérios para desvendar, puzzles para resolver e deuses Anciões a conhecer.

A Ilha perdida
A protagonista, e também narradora deste jogo, se chama Norah Everhart, uma mulher inglesa dos anos 30 que embarcou em uma viagem para uma misteriosa ilha no meio do pacífico. Uma ilha difícil de se descobrir informações, e muito mais de conseguir transporte, pois todos com quem ela conversou afirmavam que este era um lugar amaldiçoado e perigoso.
Porém, Norah não pode deixar que meras superstições bobas a impeçam de chegar até lá, pois este é o último lugar que seu marido, Harry Everhart, visitou antes de desaparecer. Harry iniciou uma expedição a esta mesma ilha alguns anos antes, pois estava convencido de que este lugar continha a cura para a doença de Norah, responsável por lhe causar manchas no braço, e que a levaria a uma morte lenta e dolorosa.
Inicialmente, o local parece pacífico e muito belo, com magníficas praias de areia branca e mar azul, palmeiras verdejantes, uma flora e fauna exóticas que atiçam a curiosidade científica de nossa heroína. Ela também encontra informações sobre a expedição do marido, o que confirma que ele está lá em algum lugar. Basta seguir as pistas deixadas por ele durante a viagem, que ela encontrará Harry no final. Porém, as coisas não serão tão simples assim, pois a ilha está cheia de segredos a desvendar, e seu progresso será barrado por diversos puzzles.
Para entender a história do jogo, dependerá muito da sua habilidade de explorar ambientes. Norah tece comentários sobre tudo o que você encontrar e as ações que tomar, e há diversas coisas no ambiente para encontrar que avançam a história. Fotografias e documentos espalhados pela ilha, além de detalhes no cenário como uma barraca, ou um equipamento, contam o que aconteceu com Harry, e com esses fragmentos de informação você vai tecendo a narrativa, descobrindo o destino dos membros da expedição e o que eles descobriram.
Aos poucos, as revelações vão se mostrando cada vez mais perturbadoras. Ataques de loucura, civilizações antigas, estruturas e tecnologias que parecem ter vindo de outro mundo, sussurros ditos em uma linguagem desconhecida, constroem aqui uma trama que gera grande curiosidade e prende desde o começo, te incentivando a avançar e buscar cada pedaço de informação possível para tentar entender o que há nessa ilha, e onde tudo isso leva.
Esta aventura se torna ainda mais bela (e sinistra) com seu estilo de arte e trilha sonora. Fiquei impressionado com como a música engrandece alguns momentos, especialmente aqueles que envolvem alguma revelação sobre a verdadeira natureza da ilha. É um arranjo orquestral muito belo e combina bastante com o tema e época que o jogo passa.
Os gráficos do jogo não são realistas, tendendo mais a uma pintura, mas fazem um bom trabalho com o design da ilha e das ruínas que você encontra, tornando tudo interessante de se explorar.

Chamado do Cthulhu Mar
Para desvendar os mistérios e encontrar as respostas que você busca, terá que superar os puzzles que este jogo te apresenta, e estes são de quebrar a cabeça mesmo. Cada puzzle apresentado é único, e todos envolvem explorar o ambiente atrás de pistas de como resolvê-los, o que os torna muito mais interessantes, desafiadores, e também frustrantes.
Jogos de puzzle vêm em vários estilos. Todos dependem de usar a lógica para superar seus desafios, mas a parte de execução pode diferir bastante. Já fizemos aqui no site, review de dois jogos de puzzle muito interessantes.
Superliminal usa e abusa de perspectiva, e você deve tentar enxergar as coisas por diferentes ângulos para avançar. Já Manifold Garden te desafia a navegar um mundo cujas leis da física e da realidade são completamente diferentes do mundo real. No final, ambos dependem de um desafio físico, de mover objetos para resolver seus puzzles.
Já Call of the Sea segue com uma proposta de te forçar a fazer ligações lógicas entre itens aparentemente desconexos. Explico: todos os capítulos do jogo te colocam em uma pequena área aberta para explorar. Você encontrará diversas coisas no seu caminho, desde as fotos e documentos que avançam a história, até objetos de interesse que são anotados no diário de Norah.
Em dado momento você encontrará algo para interagir, seja um painel com símbolos e botões, um totem com partes giráveis, um estranho aparato. A partir daí você deve aprender a como operar este objeto e quais das pistas você anotou até agora ajudam a resolver este puzzle, e isso pode ser um desafio e tanto.

Um exemplo, um dos primeiros puzzles envolve uma estátua que tem 4 partes giráveis, que podem ser combinadas de diversas formas. Nada no jogo dirá que isso é um puzzle a ser resolvido, mas sua curiosidade irá buscar uma resposta. Investigando a área, é possível encontrar outras 4 estátuas, sem partes móveis, com um símbolo próximo a cada, e um documento contendo esses quatro símbolos. Estas são suas dicas, alguns desenhos e diferentes estátuas, e você que se vire para tentar encontrar a ligação entre elas, e mesmo se essa é a dica para este puzzle em específico, pois na mesma área você irá encontrar mais dois.
Esta é uma forma muito legal de criar desafios, pois não há tentativa e erro. Resolver os puzzles exige compreensão e sagacidade para encontrar as ligações e entender o que deve ser feito. Isso gera uma sensação de vitória e dever cumprido sempre que se tem sucesso, gerando um feedback positivo e incentivando seguir em frente.
Lógico que isso também tem um lado negativo, pois você pode acabar deixando passar alguma dica importante escondida em algum lugar que você não prestou atenção, ou simplesmente não enxergou o símbolo de interação, o que é muito fácil já que ele é extremamente pequeno e ruim de ver. Muitas vezes você pode acabar simplesmente não entendendo como ligar as dicas a uma solução para o puzzle, ficando facilmente preso.

Conclusão
Call of The Sea é um ótimo jogo de puzzle que consegue apresentar uma história com temáticas Lovecraftianas de forma a criar um mistério intrigante e te deixar curioso. Resolver esses puzzles é um desafio que exigirá muito da sua dedução e capacidade de ligar as dicas que você encontra espalhadas pelo ambiente de forma criativa. Às vezes é frustrante quando você não consegue enxergar a resposta ou deixa passar alguma pista importante, mas isso faz parte do desafio.
Sua apresentação é muito bela, com um estilo artístico que faz tudo parecer uma pintura, e uma trilha sonora impressionante. É um jogo desafiador que te deixará curioso desde o começo, e só te soltará quando os créditos aparecerem.
*Chave cedida para análise em um Xbox Series S