O Mundo de LoL
Que League of Legends é um sucesso mundial, eu não preciso dizer. Todo mundo já jogou pelo menos algumas partidas desse gigante dos E-Sports. Com dezenas de heróis, cada um com sua própria história por trás, era até triste pensar que um mundo tão rico e variado ficaria preso a um jogo que a história dos personagens não tem importância.
Mas tudo mudou com a chegada da Riot Forge, uma iniciativa da desenvolvedora de trazer outros tipos de jogos que se passariam neste vasto mundo. Além disso, livros e séries (como o excelente Arcane) chegaram fazendo a alegria dos fãs, e dos que só conheciam LoL de passagem.
Em 2021, o primeiro jogo dessa iniciativa, Ruined King, chegou arrebentando a porta, sendo um dos melhores RPGs por turno do ano. Arte encantadora, música empolgante, combate desafiador e estratégico, e uma história complexa, o jogo se mostrou uma experiência incrível, aprofundando ainda mais a história destes personagens icônicos.
No mesmo dia, também foi lançado Hextech Mayhem, um jogo arcade musical, que não aspirava alcançar alturas tão grandiosas, mas que ainda assim foi um jogo divertido. Ser um plataformer musical me lembrou das melhores fases de Rayman, onde devíamos sincronizar nossos ataques e pulos à batida da música. Não tão profundo, mas divertido.
Em 2023, The Magesseker dividiu um pouco mais as opiniões, entregando um combate satisfatório e uma história que aprofundava o personagem principal e seu papel no mundo de LoL. Já Convergence teve a vantagem ter Ekko como protagonista, e Piltover e Zaun como cenário, imortalizados na série Arcane.
Agora chega Song of Nunu, um Puzzle-Plataformer que acompanha a viagem da dupla Nunu e Willump pelas terras geladas de Freljord em busca do lendário Coração do Azul, que poderá trazer suas famílias de volta. Essa aventura, no entanto, não consegue entregar bem nenhuma das características dos jogos anteriores. Não prende com sua jogabilidade, não tem personagens marcantes, nem uma história interessante o suficiente para o jogador ficar empolgado em chegar ao final.
Desenvolvido pela Tequila Works e publicado pela Riot Forge, Song of Nunu: A League of Legends Story chegará para Nintendo Switch e Steam no dia 1 de novembro.
Os objetivos de um jogo
Quando vamos analisar um jogo, é preciso ter em mente o tipo de experiência que a obra quer passar, seja ela um sentimento pela história, personagens, desafios no gameplay, e por aí vai.
O objetivo de Song of Nunu é fazer o jogador se apegar à dupla principal e sua amizade. Outros aspectos, como gameplay e história, ficariam em segundo plano, já que o jogador quer ver é a amizade dos dois se desenvolvendo, e eles trabalhando juntos para superar os desafios.
Então o jogo consegue nos fazer amar esses personagens, e querer passar mais tempo com eles?
Pessoalmente, não.
E é justamente por causa de outros elementos muito fracos, em especial o gameplay.
O menino e seu Yeti
Em Song of Nunu, controlamos o pequeno órfão Nunu, acompanhado de seu amigo peludo Willump. O jogo mistura puzzles, plataforma, e algumas sessões de combate.
A primeira coisa a se notar em todos esses componentes é o quão simples e fáceis eles são. Alguns puzzles ainda exigem algum tempo de raciocínio para resolver, mas plataforma e combate não oferecem risco algum de falha. Claro, temos de pensar que talvez o objetivo seja fazer um jogo fácil pensando nas crianças, mas isso não impediria de ao menos fazer desafios mais interessantes.
O combate consiste em apertar o botão de ataque leve ou forte até o inimigo ficar atordoado, e então segurar o botão de finalização, que mostra uma animação de ataque de nossa dupla de heróis, que ainda tem o bônus de recuperar boa parte da vida do personagem. Dessa forma, apesar de ter um botão de esquiva, ele não é muito necessário, já que nosso personagem tem uma barra de vida e recuperação generosas. O jogo ainda coloca algumas batalhas contra chefes, mas elas são mais puzzles que temos de descobrir o que fazer para derrotá-los do que batalhas de verdade.
As sessões de plataforma são tão generosas quanto as de combate, com buracos fáceis de se superar, e plataformas largas e impossíveis de errar. Em pontos muito específicos, ainda tem um desafio a mais envolvendo plantas que impedem o caminho, que Nunu pode destruir com uma bola de neve, liberando o caminho por alguns segundos, mas mesmo isso não é bem desafiador.
Por fim, entre cada sessão ainda podemos explorar a região atrás de alguns colecionáveis, como pinturas, Poros perdidos e partes de uma canção, mas isso depende de quão motivado você estará para ir atrás deles.
As Canções de Nunu
Para um jogo com Song no nome, não há um grande foco em música. Nunu tem uma flauta mágica, cuja música é usada para resolver puzzles, mas ela só tem utilidade em pontos bem específicos. Quando der para usar a flauta, runas aparecem em sua frente, e você pode usar as notas para fazer a canção correta.
A tragédia dessa mecânica é pensar como ela por si só tem um potencial bem maior do que o que foi usado no jogo.
Os quatro botões de cima do controle são usados para tocar as notas (L, R, ZL, ZR no Switch, onde jogamos). Cada uma mostra um símbolo acima da cabeça de Nunu. Combinando as notas, seus símbolos também se combinam em um símbolo novo. Para resolver os puzzles, é preciso entender como essas notas se combinam, e tocar o símbolo que está lá.
O triste é que essas músicas só são usadas nestes momentos estáticos. Então, a música serve apenas para ativar botões, girar manivelas e acordar um bicho que serve como apoio. Essa combinação de notas e símbolos poderia ter sido tão interessante se usada para o combate ou plataforma de alguma forma, ou se o jogador pudesse usá-la livremente. Você ainda pode tocar a flauta a qualquer momento, mas não terá nenhum efeito. Enfim, seguindo a tendência, é uma mecânica sub-utilizada, apenas da forma mais simples e fácil.
A história, Freljord, a vilã e alguns amigos
Como é típico dos jogos da Riot Forge, a região do jogo recebe uma certa atenção, expandindo a sua Lore. Os grandes Nerds de LoL podem até aproveitar o jogo, que aprofunda a história dos Yetis e o porquê de Willump ser o último de sua espécie. Além disso, alguns rostos famosos também aparecem por aqui, como Braum que vem auxiliar e guiar os protagonistas.
Porém, da mesma forma que o resto, a história não é muito empolgante. Por cerca de 3/4 do jogo, a história se resume a atravessar as montanhas de gelo, fazendo algumas fetch quests para outros personagens. Mais perto do final é quando Song of Nunu foca mais na história dos Yetis e a ameaça que a vilã representa.
Porém, como eu disse lá no começo, o foco está no menino e seu Yeti. Mas, mesmo aqui, o que o jogo apresenta é o relacionamento mais fácil e simples de todo. Eles já são amigos, e não há nenhum grande desafio que interfira entre os dois, ou um momento de ligação emocional.
No lugar, o jogo nos força a brincar de guerra de bola de neve contra Willump, o único desafio verdadeiro. A batalha contra Willump é difícil, mas vencer ou perder não muda o resultado da história. É apenas um momento que muda a jogabilidade por alguns minutos, e que o jogo se sente satisfeito deste ser o momento de ligação emocional entre os personagens.
Song of Nunu
A Riot Forge têm entregue jogos bons e divertidos, que expandem o mundo de League of Legends. Song of Nunu, no entanto, não é uma experiência memorável, que não acerta bem nem mesmo no seu maior foco: a amizade dos protagonistas.
A jogabilidade extremamente simples torna a experiência bem tediosa. O fato da história só engrenar de verdade nos últimos momentos não é o suficiente para cativar o jogador, se não conseguiu esse feito no resto do jogo.
Aqueles que realmente gostam do mundo do LoL, ainda poderão encontrar aqui pedaços de Lore que enriquecem a região de Freljord, mas é um prêmio demasiado pequeno por jogar Song of Nunu.
Enfim, apesar dos acertos da Riot Forge, Song of Nunu prova que ter personagens mundialmente reconhecidos e uma fã base sedenta por mais histórias nesse mundo não é garantia de que o título será ótimo.
*Chave cedida para análise