Você já se deparou com algum jogo onde a arte te fez perder o fôlego? Aqueles jogos que são tão bonitos que você quer logo colocar como papel de parede do celular ou do computador? Hoje resolvi trazer pra vocês 6 jogos que, na minha opinião, possuem um estilo de arte tão singular que não tem como não gostar. Como vocês vão ver a seguir, muitos deles são dignos até mesmo de obras de museu!
Don’t Starve Together
Quem joga Don’t Starve pela primeira vez pode até achar que está jogando um jogo criado pelo próprio Tim Burton. A dúvida sobre se ele havia participado ou não do desenvolvimento foi tão frequente que se tornou o assunto de diversos artigos, possuindo até seu próprio tópico na página do jogo na steam. O estilo único dos personagens, com traços fortes e bem característicos faz referência direta a filmes como A noiva cadáver (2005) ou Frankenweenie (2012). Pouca gente sabe mas esse estilo (muito antes de Tim Burton) foi uma característica do expressionismo alemão, um movimento artístico pós-guerra, que teve filmes como O gabinete do Dr. Caligari (1920) e o famoso Nosferatu (1922), e quadros como o inesquecível O grito (1893) de Edward Munch. Esses filmes e pinturas têm influenciado gerações e mais gerações de filmes de terror.
A história do jogo também é bem familiar. Um cientista acaba indo parar em outro mundo e precisa sobreviver o máximo que conseguir com o que encontrar disponível. Podemos dizer que é bem aos moldes do famoso filme O naufrago (2000) ou do livro Robinson Crusoé (1719). A experiência de jogar Don’t Starve fica ainda melhor no “modo” de jogo multiplayer, Don’t Starve Together, onde você pode viver a aventura com seus amigos e passar fome (e raiva!) de forma colaborativa. E o melhor? O jogo vem automaticamente com 2 cópias, uma pra você e uma pra dar pra quem quiser jogar junto! Legal né?
Valiant Hearts
Assim como os outros jogos criados na UbiArt Framework, Valiant Hearts tem um estilo de arte totalmente único. O jogo se aproveita da estética dos quadrinhos e traz um toque de documentário para dar mais veracidade ao gameplay. O objetivo dos desenvolvedores foi tentar não romantizar a guerra. Eles optaram então por fugir dos estereótipos do gênero, onde ela é retratada como uma disputa sanguinária cheia de adrenalina e ação. O foco foi representar a luta por sobrevivência das pessoas que não tiveram escolha nem desejavam estar ali. Eles também comentaram que o estilo cartunesco foi uma forma de homenagem e “respeito pelas pessoas que passaram … [pela guerra] ao mesmo tempo que deixava [o jogo] acessível”.
Além disso o uso dos balões de fala também foi proposital, ajudando a “transmitir uma história complicada de maneira simples”. Essa mistura de jogo com quadrinhos atua de forma lúdica, e cria um jogo que pode ser jogado por pessoas de todas as idades e transmite com primor a dor e o sofrimento causados pela guerra. Faço também uma menção especial ao cachorro Walt e à enfermeira Anna, para mim os personagens mais marcantes, que fazem a ligação entre os que estão de ambos os lados do combate, atuando como verdadeiros “salva vidas” ao longo de todo o jogo.
Cuphead/SkullGirls
Pode parecer um pouco injusto colocar Cuphead (2017) e SkullGirls (2012) lado a lado, mas ambos os jogos fazem um uso primoroso das técnicas de animação tradicional. É fácil encontrar centenas de reviews falando sobre como Cuphead consegue trazer de volta o estilo de animação dos anos 20 (E com razão!), então preferi não ser redundante. Que esse jogo é considerado uma obra-prima em termos de arte também não é novidade, e é por isso que decidi trazê-lo junto com outro jogo que também se utiliza de animação tradicional mas não é tão conhecido, o SkullGirls.
SkullGirls é um jogo de luta que se passa em torno da busca por um artefato mágico, o Skull Heart, que garante desejos as mulheres. Isso justifica porque quase todas as personagens são femininas. Meu maior problema com esse jogo é a sexualização exagerada de muitas das personagens. Além disso, o jogo se envolveu em uma polêmica após vazarem uma série de denúncias de assédio sexual por parte do designer chefe, Mike Zaimont. Com isso e a recusa da demissão do abusador, diversos funcionários se demitiram e conseguiram levar o jogo para outra empresa. Agora em novo comando, ele recebeu este ano uma nova atualização (DLC) com a adição de duas novas personagens, Annie e Umbrella.
Polêmicas a parte, o jogo é uma experiência única por ser um jogo de luta (de 1 a 3 personagens) animado todo tradicionalmente. Seus movimentos são muito fluidos e as personagens são cativantes, além de trazer um estilo de programa de rádio muito original. Sem dúvida ele vale a pena jogar se você gosta de um bom jogo de luta e uma boa aventura desenhada à mão!
The Legend of Zelda: Skyward Sword
Skyward Sword é um jogo que divide opiniões, e disso ninguém discorda. Sendo considerado o primeiro da linha do tempo oficial da franquia The legend of Zelda, ele causou bastante furor na internet esse ano devido a seu relançamento para o Switch em formato HD (Em parte pelos fãs incomodados com os controles de movimento ou ansiosos por jogos em 4K, mas isso é assunto para depois…). Sejamos sinceros, o fato importante é que a arte de Skyward Sword, seja na versão original para Wii ou na versão para Switch é de tirar o fôlego. O visual, baseado no movimento impressionista, esbanja cores vibrantes e belos traços de tinta, e traz uma atmosfera muito viva e calorosa. Contudo, essa atmosfera contrasta (E MUITO) com alguns dos jogos anteriores como Majora’s Mask e Twilight Princess, mas também se junta a outros mais leves como Wind Waker e Phantom Hourglass.
Também o design dos personagens, assim como no Wind Waker busca um estilo mais cartunizado e menos realista, que foca na expressividade dos personagens. E quem não riu com nosso querido Link ao se deparar pela primeira vez com uma rupoor, que atire a primeira pedra! Apesar do desenho dos boss ser um caso a parte (um que eu prefiro nem comentar!), o fato é que jogos inspirados em movimentos artísticos têm de tudo para dar certo. Navegar por um cenário digno de Monet ou Van Gogh é sem dúvida uma experiência inesquecível! E sejamos sinceros, quem não gostaria de ter um loftwing e poder sair voando do Brasil nesse momento não é mesmo?
Blasphemous
Como não podia deixar de citar pelo menos um jogo feito em pixel art, minha escolha foi Blasphemous (2017). Esse metroidvania com cenários espetaculares e animações de tirar o fôlego só não é muito indicado para pessoas que não gostam de gore (e eu me incluo nessa lista!). Sua atmosfera sombria é graças a sua história, que se passa num lugar fictício durante a inquisição espanhola. A ênfase aqui é para as catedrais, que tem um papel muito importante na construção do cenário e aparecem bastante no artbook do jogo. Se prepare para ver cenas de tortura, execuções e paisagens que parecem ter saído diretamente de uma catedral gótica.
Como nos jogos que falamos anteriormente, aqui os grandes pintores também foram uma inspiração importante para o design. Podemos dar especial ênfase para os espanhóis Velazquez e Goya, sendo a Procissão dos Flagelantes (1812) de Goya primordial na construção da ambientação. Vale lembrar também que o jogo foi considerado pela revista QG como um dos melhores jogos espanhóis já feitos, e que ontem (26/08) foi anunciada uma nova atualização chamada “Wounds of Eventide”, que será totalmente gratuita!
Hades
Hades (2020) é um jogo que tem chamado cada vez mais atenção e está na lista não por acaso, tendo ganho o BAFTA de melhor realização artística em 2020. O jogo no período de seu lançamento já contava com grandes expectativas por ser o sucessor de Transistor, outro jogo com uma arte belíssima. Trazendo como tema os deuses da mitologia grega, ele possui um estilo de arte bem similar às fanarts da artista Viria para a saga de livros Percy Jackson. Na época, essas fanarts ficaram tão conhecidas que os fãs conseguiram que ela fosse contratada para fazer as artes oficiais dos personagens.
Coincidência ou não, a arte do jogo é incrível e conta com personagens extremamente estilizados, o que consegue captar bem sua essência. Aqui, ao contrário das famosas togas brancas, cada deus possui uma roupa única que combina com sua personalidade e seu ofício, trazendo uma nova perspectiva. Considerando que ele foi lançado pouco tempo depois da descoberta do público de que as estátuas antigas, na verdade nunca foram brancas, o ambiente multicolorido estabelece de uma vez por todas a personalidade que esse período da história merece.
Da pra julgar um livro pela capa?
É normal dizer que os leitores compram livros pela capa, mas isso também acontece com os jogos?
Jogos com estilos de arte inovadores são até bem comuns no meio. Para desenvolvedoras independentes, criar um estilo de arte único é uma das melhores formas de cativar o público pela primeira vez. Vale lembrar que não há nada de errado em jogar um jogo pela arte, pois ela é parte importante da experiência. Sabemos bem que um design bem feito pode sim ser o motivo de muitos jogos alcançarem o sucesso ou o fracasso e sejamos sinceros, é bem difícil passar horas e horas olhando para algo que não consideramos esteticamente agradável.
Se eu fosse falar de todos os jogos que gosto o artigo ficaria enorme, mas acho que vale mencionar mais alguns como Journey, Gris, Child of Light, Ori, Hollow Knight, Momodora, Celeste… alguns dos quais até já comentei por aqui, cuja arte é capaz de arrancar suspiros e encantar a todos. Finalmente, deixo aqui um agradecimento a esses designers e artistas que criaram esses mundos encantadores e continuam nos ajudando a sonhar!
E se tiver alguma outra sugestão de outro jogo que é digno de uma pintura já sabe, é só botar aí nos comentários!
Uma lista – e matéria – sensacionais. Tive o prazer de jogar todos esses games maravilhosos, e também incluiria nessa lista: Final Fantasy IX (PS1), Okami (PS2) e Ori and the Blind Forest (PC, Switch e Xbox One), que na minha minha opinião são verdadeiras obras de artes.
Adorei as indicações!!!