Introdução

Depois do século XIX, percebemos que o ser humano salta em muitos quesitos, em seus termos evolutivos. O progresso nos campos da ciência, avançaram numa escala nunca antes vista. Assim, a partir da década de 70, poderemos ver o nascimento de uma nova era, para o meio digital e artístico: a era dos jogos eletrônicos.
Durante o decorrer do século XX, o mundo presenciará o nascimento da Escola dos Annales, um movimento historiográfico (relacionado a ciência História). Entretanto, o que isso importa de fato? Os membros fundadores do movimento, desenvolverão pensamentos sobre a interpretação e visão da ciência História, numa nova e refrescante perspectiva.
Assim, utilizando muito da obra remanescente de Marc Bloch (historiador renomado e morto na Segunda Guerra), os membros se esforçarão a colocar em prática, o que Bloch deixou para o mundo, antes de seu assassinato: os conhecimentos e interpretações dos documentos históricos.
Afinal, o que é um documento histórico?

Para Karl Marx, a humanidade segue um padrão de ações, desde que podemos documentar nossa presença no mundo. Três dessas ações, são as que nos importam: nos reproduzimos; depuramo-nos; e nos reproduzimos materialmente.
Portanto, o ato de reproduzir-se materialmente, indica que marcamos nossa presença no mundo, através de itens manufaturados por nós mesmos. Independente do item que seja, tudo pode contar uma importante informação, da sociedade em questão. De uma simples pedra lascada ou um tablete de argila contendo leis, o que eles tem em comum? Eles são documentos históricos.
Todavia, por muito tempo, não se pensou assim sobre a interpretação dos documentos. Com as escrituras finais de March Bloch, deixadas na parede de sua cela antes de ser morto pela Gestapo nazista, Bloch nos deixaria esse entendimento final. Assim, infelizmente Bloch não veria a escala que seu último suspiro artístico teria, visto que seu pensamento revolucionaria os conceitos da História, e da interpretação historiográfica.
Desse modo, chegamos ao ponto necessário desse artigo: vídeo games SÃO DOCUMENTOS HISTÓRICOS. Carregando informações de seus presentes, o vídeo-game é uma consequência de uma sociedade em constante evolução tecnológica. Assim, se torna um tipo inédito e inovador de documento… e arte
O jogo como documento histórico
O progresso da tecnologia, permitiu ao homem a produção de novos tipos de arte. Atrelados diretamente entre, a mistura das artes visuais e textuais, o jogo eletrônico assume essa posição complexa de entendimento e análise, visto que em virtude do mercado, a sua produção passa por constante mudança e, adaptação para as tendências capitalistas.

Mesmo assim, o vídeo-game ainda ocupa um singelo espaço como documento artístico e histórico, visto que o mesmo carrega informações importantes de seu período de produção. Jogos são reflexos da sua contemporaneidade, apresentam inconsistências discursivas e refletem assuntos do seu período e sociedade.
Exemplificando: assim como um Tetris nos mostra a ambição da programação e evolução tecnológica do homem, na década de 80, um jogo como Life is Strange, nos apresenta aos conceitos de uma sociedade em transformação, a ponto de abraçar a ideia de relacionamentos homo-afetivos, e reforçar a identificação de desordens psicológicas e estruturais (tais como depressão, ansiedade, machismo, homofobia…), nos indivíduos do dia-a-dia.
Estudar os jogos, e a produção dos mesmos, é acabar estudando um novo marco na evolução humana e artística. Assim, vídeo-games independente de suas temáticas e intuitos, carregam sua devida importância documental e cultural, para a humanidade. Não só um meio de entretenimento e lazer, mas obras com intenções morais, éticas… e políticas.
Intenções políticas em um jogo
Já entendemos o papel do jogo como documento histórico, mas o que possivelmente não ficou claro, é: existe política nos games? A resposta é simples: sim. Antes de avançarmos no pensando, vale a pena relembrarmos o significado da palavra POLÍTICA, tendo sua origem principalmente da cultura grega, política significa ”algo integrado a Polis”. Incorporando principalmente a necessidade das relações e organizações, que o homem tem com o seu igual. Assim, a política é uma necessidade e uma ação, que os homens cometem inconscientemente, todos os dias.

Como antes dito, jogos são produtos de uma sociedade em constante avanço e progresso, e são obras com intenções diretas e indiretas, e independentemente, carregam intenções políticas. Documentos históricos são marcados por serem frutos de intenções, sejam essas de sobrevivência ou não, essas intenções refletem a necessidade política do homem em questão.
Assim é o vídeo-game também, visto que o mesmo desfrutará de passar a diante, discursos políticos indiretamente incorporados, em lógicas Ocidentais ou Orientais. Como por exemplo, Call of Duty, que anualmente, nos remete ao mesmo discurso (já antes discutido em outra franquia, poderá ver isso aqui) de legitimação de poder, das forças dominadoras e vencedoras da Segunda Guerra Mundial.
Além da faixa de intenções políticas e os discursos entre os polos, perceberemos uma frequente atribuição (nos últimos lançamentos), de se abster a uma posição. E querendo ou não, assumir neutralidade ainda assim é uma escolha política, pois damos espaço para uma força dominadora, continuar dominando.
Considerações finais
O que faz de nós, seres políticos, avançarmos e vivermos, é a intensa necessidade de nos reproduzirmos materialmente. Seja por ritos religiosos, necessidade de desenvolver status e reconhecimento, ou simplesmente pelo ato cleptomaníaco de acumular bens materiais, o ser humano vive em função de produzir materiais, que marcam sua presença na História.
Os vídeo-games nada mais, do que são novos alicerces materiais para marcar essa presença. Artisticamente, jogos refletem a necessidade e ambição visual, sobre um novo meio e perspectiva: o digital.