Introdução
O início dos anos 2000, foi um período muito curioso para a indústria de vídeo-games. Partindo de diversas vertentes, os desenvolvedores da época utilizavam das mais sofisticadas peças de hardware para desenvolver jogos incríveis. Os jogos em primeira pessoa, estavam em um grande boom, visto no sucesso absoluto de Halo e Half Life 2, jogos que apostavam muito no potencial gráfico e na grandiosidade de seus temas.
Contudo, o console da Sony já era conhecido por ser palco de muitos títulos plataformers, rpgs e de ação, os quais rodavam muito bem. Entretanto, o PlayStation 2 seria um péssimo console para os fãs de shooter, visto que o mesmo não possuía um potencial de hardware o suficiente. Para encarar o título do seu principal competidor (Halo), seria necessário apostar em algo do mesmo nível.
Tendo em vista essa dificuldade técnica do console, a Sony apostaria fortemente nas principais tendências do mercado na época: combate sci-fi e Segunda Guerra Mundial. Assim nascia Killzone, um exclusivo em resposta para Halo, sendo chamado por muitos na propaganda da época, de ”Halo Killer.”
A trama
Lançado em Novembro de 2004 pela Guerrilla Games, Killzone chegaria nas lojas assegurando uma trama de conflitos políticos. Os humanos, já em um alto grau de evolução e desenvolvimento, já teriam passado do período de colonização espacial. Envolvendo conspirações e guerras, o planeta ”Velka” seria o palco para a trama. Sendo um planeta de origem colonial agrícola, seria a base para o desenvolvimento de nossos protagonistas.
De antemão, os ‘helghasts’, inimigos que ilustram e intimidam o jogador pela capa do título, teriam origem do planeta Helghan. Um planeta hostil e insalubre para a vida humana, seria o local onde os antagonistas evoluiriam e se transformariam em máquinas de combate. Regidos por um sistema autoritário, a lei do mais forte predominaria e, tendo em vista os problemas de ordem regional, forçaria os seus habitantes a guerrear por recursos com o seu vizinho mais próximo: Velka.
A princípio, já veremos a primeira alegoria que o roteiro desenvolverá com o cenário das guerras mundiais. Primeiramente, Helghan perdera a ”Primeira Guerra Helghan” contra Velka, desenvolvendo um sentimento de vergonha e alimentando um revanchismo pela derrota. Assim, os ambitantes helghasts permitirão a ascensão de seu líder supremo: Scolar Visari.
Sobretudo, é importante observar o quanto Killzone impõe a criar um background, que se remete a Alemanha de Hitler: o povo de Helghan, necessitado e destruído, só poderia se reerguer sobre o manto de um líder forte e carismático, assim, usufruindo da oportunidade, Visari funda o Primeiro Império Helghan, desenvolvendo sua armada e alimentando o sentimento de revanchismo helghast, que culminaria na Segunda Guerra Helghan.
A ‘I.S.A’ e a alegoria dos Aliados
Ao passo que Helghan se organizava, Velka sobre mira do regime já se organizava para o pior. A investida helghast os pegaria de surpresa, mas a força conjunta das nações e planetas do conglomerado de Velka, a ”I.S.A” (Aliança Estratégica Interplanetária), já se uniria contra o tirano.
A I.S.A, sendo o exemplo mais claro que temos da inspiração da Guerrilla Games, para a criação do bloco dos Aliados da Segunda Guerra Mundial, representaria aquilo que os desenvolvedores chamam de ”mundo liberal livre”, da modernidade. Usando como estratégia de identificação, os protagonistas do jogo seriam categorizados como os ‘mocinhos’ na trama por essa estratégia, já que os mesmos defenderiam a liberdade e paz.
Sendo que, posteriormente, a autenticação do discurso dos aliados, se põe em cheque no momento que no desenrolar da trama, soldados helghasts acabariam por desertar das linhas fascistas. Assim, a construção de caráter e idealismo que a I.S.A representa, estaria formada e propagada fortemente ao jogador por trás do controle, ao passo que um desses desertores helghast, se tornará um personagem jogável na trama.
Afinal, sobre o que Killzone realmente é?
Seria inocência pensar que Killzone não é resultado de um macro político. Por mais que o jogo tenha seguido uma ordem de produção, voltada principalmente pelos interesses do mercado consumidor, é importante destacar que o jogo não se limita apenas a isso.
No decorrer do desfecho do primeiro game, veremos as forças helghasts retornarem ao planeta de origem, na construção de linhas de defesa de seu líder. Uma metáfora bem desenvolvida, sobre as últimas tentativas de defesa do Reich nazista.
Se enxergarmos com o olhar do historiador, Killzone é uma produção cultural regida por um alicerce de visão ocidental, sobre as consequências das guerras mundiais. Assim, Helghan representando as nações fascistas do início do século XX, e a I.S.A representando o bloco aliado europeu-americano, nos remete ao discurso claro de legitimação do mundo liberal, sendo ele o vitorioso.
Cultivando a memória da vitória aliada européia-estadunidense, e justificando o posto de vencedores, Killzone é um jogo que atesta a vitória do mundo liberal. Carregando não apenas importância para a história do console da PlayStation, mas refletindo questões e situações, que podem muito bem ser vistas numa aula de História.